Estive ausente por um longo período aqui do blog, mas tive muitos motivos e alguns muito bons, como o trabalho que venho trazer nesta postagem.
Há alguns meses, venho trabalhando com um grupo da faculdade em um curta para a disciplina Linguagem Televisiva II, do curso de Publicidade e Propaganda. Nos dedicamos muito, foram muitas horas de filmagens, produção e edição. Então curtam aí o resultado desse trabalho, que foi incrível de fazer, mesmo com tantos contratempos para produzir, trabalhos, seminários, provas e tudo que faz parte da vida acadêmica.
O filme traz como personagem uma garota de 20 anos chamada Clarissa, que sofre bullying e em um momento de desespero tenta tirar a própria vida, colocando em textos todos os sentimentos que passam pela sua mente nos últimos instantes.
Neste curta, usamos muitas referências e elementos que trazem significados importantes para o universo de Clarissa, como por exemplo:
1. Relógio: O relógio faz a função do opressor, por isso suas batidas tão fortes. O tempo costuma oprimir quem se encontra em uma situação como esta, já que cada momento que vive é um momento de tortura e desespero. Os 3 segundos foram usados apenas de forma a representar um momento curto de tempo, mas que para a Clarissa demora um tempo muito maior, e é daí que surge o nome do filme.
2. Vermelho: Praticamente todos os objetos de cena que estão próximos à mesa são na cor vermelha, que representa toda a agitação e descarga dos sentimentos de Clarissa e compõem os planos mais quentes e agitados da trama.
3. Morte: A morte está representada principalmente pela pequena caveira amarelada, deixada sobre o pé da luminária, a contemplar os pensamentos e escritos que conduzem à decisão de tirar a própria vida. A imagem do objeto é, inclusive destacada, quando Clarissa cita o sorriso amarelado da morte.
4. Rock: Em muitos detalhes do quarto, vê-se que Clarissa é uma garota que gosta de coisas diferentes do padrão normativo feminino. Um dos elementos que se destacam é o painel formado por pôsteres de bandas de rock, logo acima do balcão, onde se encontram livros de terror, discos de vinil também de bandas de rock, sendo um em especial, que ela chega a abraçar. É o disco Dirt, da banda Alice In Chains, grupo grunge dos anos 90 cujo vocalista, Layne Staley, foi encontrado morto por overdose em seu apartamento após anos de reclusão por problemas com drogas e depressão.
5. Darth Vader: Próximo à cama há um poster do vilão de Star Wars, personagem complexo e sombrio, representando o lado negro e oculto da dor de Clarissa.
6. Cama: A cama contém outros elementos que mostram como Clarissa tem gostos particulares, como o gosto por histórias em quadrinhos, representado aqui pela clássica revista do Batman, chamada "A Piada Mortal", um especial com a participação do Coringa. O termo "Piada Mortal" pode ter muitas relações com o bullying. Outro elemento é o controle de XBox, que mostra que ela é uma garota que gosta de games, portanto, uma garota alternativa. Além disso, todos os elementos encontrados na cama são pretos, brancos ou são de cores frias, já que é ali que Clarissa sofre e internaliza suas dores.
7. Cassiano Ricardo: Um dos textos de Clarissa é um trecho de um texto de Cassiano Ricardo, com o título "ETC.", que pode ser lido, na íntegra, aqui:
http://www.baciadasalmas.com/2007/etc/.
8. Cigarro: Clarissa tenta fumar um cigarro, como uma tentativa de desviar a dor e encontrar uma outra solução que não a morte, mas desiste, visto que já fumara e não resolvera o problema.
9. Vozes: As vozes que ofendem Clarissa demonstram a não aceitação dela como uma garota diferente, provavelmente mais livre. Nosso sistema de manutenção opressor tenta, geralmente, corrigir o diferente tentando eliminá-lo para que este não represente uma alternativa para outras pessoas. É daí que sempre nasce o preconceito que resulta na violência.
10. Layne Staley: Mais uma vez uma referência ao ex-vocalista da banda Alice In Chains, que morreu de forma trágica, agora em um poster colado na parede, acima da mesa.
11. Esqueleto: Clarissa brinca com um esqueleto de plástico, de forma muito delicada, como se estivesse tratando de seu próprio corpo sem vida, tentando amenizar e humanizar o sentimento para com a morte.
12. Livros: Clarissa mantém sobre a mesa quatro livros. Um deles dá nome à ela, o "Mrs. Dalloway", cuja protagonista se chama Clarissa Dalloway. O livro foi escrito por Virginia Woolf, que cometeu suicído, afogando-se em um rio. Outro livro da pilha de Clarissa é o "Garota Imterrompida" de Susanna Kaysen, livro que relata a estada de Susanna Kaysen em um hospital psiquiátrico, juntamente com outras garotas, por serem, simplesmente "diferentes" e "não aceitas pela sociedade". O livro inspirou o filme homônimo, de grande sucesso, com Winona Ryder e Angelina Jolie. O livro seguinte é o "Complexo de Perfeição" de Colette Downling. O livro fala dos problemas ocultos da mulher que tem a "necessidade" de ser perfeita, vitoriosa e produtiva, deixando em dúvida se essa mulher moderna não utiliza todo esse empenho como uma máscara para encobrir os sentimentos internos de solidão. Por fim, o livro chave, com o qual Clarissa finaliza seus pensamentos: "O Mito de Sísifo", de Albert Camus. O livro discute, filosoficamente, o absurdo da vida e coloca como ideia central a problemática do suicídio, que na visão do autor, é o único assunto que mereceria ser discutido pelos filósofos.
13. Pink Floyd: Enquanto escreve, com pulsos cortados, Clarissa veste uma camiseta preta. Na imagem final, vê-se mais claramente que a estampa é a do CD Pulse, disco duplo ao vivo, gravado durante a turnê de promoção do álbum The Division Bell da banda Pink Floyd. A palavra "pulse" pode ter várias traduções possíveis, como: pulso, pulsação, batimento, movimento ritmado, cadência, palpitação, emoção, se usado como substantivo, ou pulsar, ter pulsações, palpitar, se usada como verbo. Pulse é uma palavra que, sozinha, pode descrever quase todo o filme.
14. Música final: Ao observarmos Clarissa no chão, de braços abertos, ouvimos a voz de Emilie Autumn a interpretar a música Gloomy Sunday, conhecida como a música do suicídio, de autoria do compositor húngaro Rezsõ Seress, escrita em 1933. De acordo com uma lenda urbana, muitos suicídios foram inspirados pela canção, mas não há nenhum tipo de comprovação de tais afirmações. Segue o link para a versão mais conhecida, na voz inconfundível de Billie Holiday:
https://www.youtube.com/watch?v=xHpYyKqgzks e o link para a versão original de Rezsõ:
https://www.youtube.com/watch?v=vEbXnWbwjLQ.
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Mais uma vez, meus agradecimentos à toda a equipe:
Adriana de Melo,
Ana Mascarenhas,
Ingrid Nunes,
Jaíra Conrado,
Joílson Oliveira e
Junia Vieira, além do nosso grande incentivador e professor Alexandre Picarelli.