Há alguns dias recebi um link para uma história em quadrinhos chamada Bongcheon-Dong Ghost, escrita e ilustrada por Horang. É uma espécia de HQ online com alguns recursos de mídia bem legais, como áudio, que fazem o leitor se prender à narrativa. É uma pequena história de terror em inglês (porém, de fácil entendimento), e recomendo para todos os tipos de leitores. Para ler acesse o site do Bongcheon-Dong Ghost.
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6 de abril de 2012
10 de novembro de 2011
A Minha Dor
A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal ...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias ...
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve ... ninguém vê ... ninguém ...
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal ...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias ...
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve ... ninguém vê ... ninguém ...
2 de novembro de 2011
Meu encontro com Cthulhu
A noite era fria e silenciosa.
Estávamos em três e seguíamos por corredores e galerias de pedra úmida,
musgos e insetos. O barco era pequeno, com um único banco transversal e
remos nas laterais, mas que não eram usados. A embarcação simplesmente
deslizava pelas águas subterrâneas, como se soubesse aonde ir. Tanto eu
quanto meus amigos estávamos paralisados, mudos e acuados em seus
estados mentais.
Uma brisa mais forte nos levou até uma grande galeria, tão grande que suas paredes de pedra desapareciam rumo ao teto. Sua circunferência era tão vasta quanto a altura, o que tornava o ambiente mais escuro e profundo. Não havia outro som a não ser o da marola que se chocava com a madeira do barco, que agora parecia desacelerar lentamente.
Dentro da escuridão, consegui distinguir uma silhueta gigantesca que parecia se aproximar de forma lenta e em silêncio. Nossos olhos arregalados puderam observar uma forma monstruosamente grande. Vi seus olhos acesos em tonalidade amarelada, mas muito pequenos. De sua face pendiam tentáculos musculosos, notados apenas pelo reflexo de sua superfície gosmenta. De trás de seus ombros surgiam asas fechadas, muito parecidas com as asas dos mitológicos dragões. Em uma mistura de suor e taquicardia minha cabeça doía e em minha mente o medo sugava todas as minhas forças.
Em um movimento suave, um dos braços da criatura surgiu das águas, nos mostrando que era ainda maior e que estava quase toda submersa. O braço se levantou e a mão gigantesca veio em nossa direção, mostrando garras muito maiores que nossos corpos. Senti meu corpo gelar, envolto por dedos nodosos e molhados, que me fizeram perder os sentidos.
Acordei em outro lugar. Parecia o espaço sideral, totalmente negro, silencioso e sem barreiras. Eu flutuava e comigo a criatura horrenda, mas que nesse instante parecia menor, talvez adaptando seu tamanho para lugares ou tarefas diferentes. Nesse instante uma de suas mãos segurava a parte de trás da minha cabeça. Seus olhos me fitavam enquanto as garras da outra mão vinham na direção do meu rosto.
A criatura parecia me analisar e estudar minhas estruturas corporais. De súbito, uma de suas garras inseriu-se no canto interno do meu olho direito, penetrando alguns poucos milímetros, para depois virar a ponta na direção do globo ocular e perfurá-lo lateralmente. A dor era intensa e a sensação extremamente perturbadora. Depois de atravessar todo o globo, o mostro resolveu retirar sua garra e ao sair minha pupila foi apagada e todas as partes internas do olho foram destruídas, deixando-o cego. Antes mesmo de acreditar no que se passava, senti que o outro olho começara a passar pelo mesmo processo e toda a dor inimaginável foi multiplicada. Restavam-me os outros sentidos.
Depois de alguns minutos o terror continuava. Suas garras rodearam minhas narinas até que se perderam dentro delas. Senti cada cartilagem e ossos sendo forçados. Ouvi seus estalos e senti o sangue tomar conta da garganta. Sufocado, mas imóvel. As pontas das unhas tocaram o interior do meu pescoço e ao serem retiradas senti um vazio, como se todas as partes internas das minhas vias respiratórias tivessem sido removidas. Já não conseguia respirar normalmente, parecia sufocar no meu próprio sangue.
Minha mente girava. Tudo rodava e meus pensamentos eram os mais aterradores. Até que senti suas garras tocarem meus lábios. Dois de seus dedos desceram garganta abaixo. Novamente a asfixia me enlouquecia. Suas perfurantes garras escorregaram até o meu estômago, provavelmente. Apesar de sentir meu corpo desfalecer, eu não morria, apenas enlouquecia pouco a pouco com a dor. Até que tudo escureceu.
Abri os olhos, mas nada vi. Continuava cego. Minha boca e nariz eram uma mistura de carnes e restos de cartilagem destruídos. Não havia língua. Havia apenas um vazio por dentro do meu rosto. Consegui me levantar com muita dificuldade. E comecei a caminhar lentamente, procurando apoios e tentando ouvir o ambiente. Silêncio. Esbarrei em algumas paredes e por elas fui sendo conduzido pelo interior de um grande cômodo. De alguma forma eu sabia que meus amigos estavam ali. Provavelmente dormindo. Percorri alguns corredores sem saber exatamente o que procurava.
Ao dar mais um passo, vi meu reflexo rapidamente em um vidro, aparentemente uma janela. Mas, apesar de estar de frente para ela, meu reflexo desapareceu, saindo para um dos lados do vidro. Passei a procurar outras janelas ou outro objeto que pudesse refletir minha imagem. Então me deparei com um espelho, e ficando frente a frente com meu reflexo fui tomado de um horror indescritível. Meu reflexo era magro ao extremo. Uma pele ressequida e esticada o cobria e roupas de hospital, como as de pacientes, me vestiam. Notei também uma faixa na cabeça além de olhos tão fundos que pareciam órbitas vazias.
Mas o susto não foi somente da minha situação física. Meu reflexo ao me observar foi tomado de medo e loucura. Deu um passo para trás num grito de pavor, ao mesmo tempo em que seus braços esqueléticos tentavam proteger seu rosto, correndo em seguida para o lado direito da área do espelho e sumindo da imagem. Notei pelo reflexo do espelho um quarto vazio, com paredes em um tom pastel de marrom e um grande vazio dentro de mim.
Conto inspirado em um dos sonhos mais realistas que já tive.
27 de outubro de 2011
Alice
"Muda sobre uma maca, com a cabeça curiosamente enfaixada, Alice parece apegar-se de uma forma precária à vida. Suas queimaduras melhoraram consideravelmente em um ano desde o incêndio, mas ela padece em um transe profundo, quase em demência. Foi como se as chamas houvessem consumido seus sentidos. Muda, surda e cega sob qualquer estímulo, ela estátotalmente integrada à melancólica enfermaria.
Num instante frenético, um felino nojento atira-se sobre Alice quando ela estava para ser levada para dentro. Assustados com os uivos do gato, os ajudantes soltaram a maca e deixaram a pobre menina cair no chão. O mais curioso foi contemplar o gato sobre Alice, como que reivindicando seus direitos territoriais, ou como se defendesse um roedor capturado nos dias de caça de outros predadores famintos. Só quando um plantonista o ameaçou com um cabo de vassoura é que a criatura fugiu para a cerca mais próxima. Mesmo assim o gato ficou agachado embaixo de alguns arbustos. Com os olhos bem abertos, ele fixava Alice como se ele tivesse algum interesse vital em nossos procedimentos."
*Texto extraído do Case Book - Diário do psiquiatra responsável por Alice, no jogo American McGee's Alice, lançado em 2000, pela EA Eletronics.
**Em outra oportunidade farei uma resenha sobre o jogo, para os apaixonados e para os que ainda não o conhecem.
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